Brasileiros reproduzem raios-bola em laboratório




Cientistas de Pernambuco reproduziram fenômeno raro em laboratório. Raio esférico ocorre durante tempestades e pode durar minutos.





Um grupo de cientistas brasileiros conseguiu reproduzir em laboratório um dos fenômenos mais raros da natureza, os relâmpagos esféricos. O feito comprova uma teoria que tentava explicar como eles aconteciam e confirma que quem disse que já viu bolinhas brilhantes pulando por aí não precisa consultar nem um oculista nem um psiquiatra.
Os relâmpagos esféricos foram descritos por diversas pessoas ao redor do mundo durante tempestades com raios. Na maioria dos casos, as esferas têm o dobro do tamanho de uma laranja e chegam a durar minutos. Os relâmpagos obtidos pelos cientistas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no entanto, são menores, do tamanho de uma bola de ping-pong, e duram menos, cerca de 8 segundos.
Segundo o orientador do trabalho, o químico Antônio Pavão, isso se explica pelo fato de que não se reproduziram em laboratório as grandes descargas elétricas da natureza. “Nós trabalhamos com voltagens relativamente baixas. Na natureza o fenômeno envolve raios que chegam a atingir milhões de volts e milhares de ampères”, afirmou Pavão ao G1.


Diversos cientistas já tentaram explicar a coisa. Há algumas teorias muito complexas (as esferas seriam formadas por bolas de plasma ionizado unido pelo seu próprio campo magnético) e outras que beiram o absurdo (elas seriam miniburacos negros criados durante o Big Bang).
A explicação que Antônio Pavão e seu aluno de doutorado, Gerson Paiva, utilizaram é mais simples e foi proposta pelos cientistas John Abrahamson e James Dinniss, da Nova Zelândia. O fenômeno seria formado por vapor de silício puro, formado após um relâmpago atingir o solo. Conforme esse vapor esfria, o silício se condensa e assume o formato de uma bola devido à carga elétrica da superfície. O brilho surge do calor do silício interagindo com o oxigênio.
Para reproduzir essas condições e testar se os neozelandeses estavam certos, o time de cientistas usou descargas elétricas de 140 ampères em pastilhas com silício de 350 micrômetros de espessura. “Assim conseguimos produzir bolas luminosas que se comportam de maneira semelhante à do fenômeno do raio-bola”, afirma Elder Vasconcelos, também da UFPE, que fez parte do grupo de Pavão e Paiva.
Com o sucesso do trabalho, que será publicado em uma edição futura da revista científica “Physical Review Letters”, o grupo agora vai tentar repeti-lo com outros materiais, como ligas metálicas. Para a equipe, no entanto, o mais importante é mostrar que a ciência brasileira também é capaz de grandes feitos. “Isso está mostrando que no Brasil nós também produzimos ciência de qualidade. E que boas pesquisas não nascem só em laboratórios supersofisticados”, afirma Pavão.Quem quiser conferir o “raio-bola” ao vivo vai ter a oportunidade em breve, garante Antônio Pavão, que também é diretor do Espaço Ciência, do governo pernambucano. “Ainda não temos a data definida, mas vamos fazer uma demonstração do processo aberta ao público”, afirma.
Marília JusteDo G1, em São Paulo

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